
DODGE LE BARON
A dúvida de senhores bem postos na
sociedade ao comprar um carro de luxo, no fim dos anos 70,
resumia-se a poucas opções: Ford Landau, Alfa Romeo 2300 e Dodge Le
Baron. O trio retratava a fina flor da frota nacional, quando o
assunto eram sedãs top, carrões para quem os quase 100000 reais em
valores de hoje não pesavam no bolso.

Eram tempos de importações proibidas
e postos de gasolina fechados depois das 20h. O Le Baron chegou com
tanque com capacidade para 107 litros, uma autonomia de 630
quilômetros nas navegações noturnas naquelas épocas de
obscurantismo econômico. Impulsionado por um V8 de 201 cavalos, o
sedã fabricado pela Chrysler proporcionava conforto aos passageiros
com bancos que pareciam espalhafatosos sofás de sala de estar.
Ar-condicionado era um opcional quase obrigatório do modelo, que
podia vir também com câmbio automático no lugar do manual de três
marchas. Para o motorista havia ainda a ajuda da direção hidráulica
nas manobras, item de série.

O Le Baron chegou numa fase em que a
Chrysler enfrentava a dura realidade dos números. As vendas vinham
despencando em alta velocidade. Para se ter uma idéia, o Dart,
carro-chefe da linha, mergulhou dos 15000 carros vendidos em 1973
para apenas 535 unidades em 1977. Era de se esperar que não
houvesse o menor entusiasmo - e muito menos disponibilidade - da
fábrica em investir pesado nos produtos Dodge. Ainda assim, a linha
1979 trouxe duas novidades, o cupê Magnum e o sedã Le Baron. Com
alterações estéticas e mecânicas (com destaque para o câmbio
automático com sistema Lock-up, que tinha por objetivo reduzir o
consumo de combustível), a safra proporcionou uma significativa
recuperação de mercado: naquele ano eles ajudaram a quadruplicar as
vendas, encalhadas no ano anterior na marca dos 1000 carros. Dentro
do regime de contenção de custos, algumas mudanças foram feitas na
raça. Isso explica o uso de fibra de vidro na dianteira para
renovar a expressão dos Dodge. O recurso economizou novo
ferramental, caso fossem produzidas com aço. O problema é que o
pessoal de pintura não estava familiarizado com o tratamento do
material. Resultado: a pintura sobre fibra começava a descascar com
os carros ainda no pátio da fábrica, o que acabou atrasando a
entrega dos novos veículos. Naquele 1979, 67% das ações da Chrysler
do Brasil foram vendidas para a matriz da Volkswagen.

Mesmo tendo bons predicados, o Le
Baron prescindia de refinamentos como ar-condicionado embutido no
painel e vidros elétricos, detalhes já disponíveis em carros de
segmento inferior. O acabamento do interior impressionava à
primeira vista, mas não chegava a levar um 10 com louvor.
Especialmente no último ano de produção, quando a antiga casimira
do estofamento foi substituída por um veludo cotelê de qualidade
inferior. Nesse quesito, o Chrysler ficava a quilômetros de
distância do Ford Landau, mais discreto e com materiais de maior
qualidade. O interior tinha opções em preto, caramelo ou azul e o
teto de vinil acompanhava a cor interna.

As plaquetas de identificação dos Le
Baron tiveram várias procedências: os primeiros saíram como tendo
sido fabricados pela Chrysler Corporation; depois, já sob o
controle VW, passaram a ter seu "RG" emitido pela Chrysler Motors;
em 1981, a maioria dos carros saiu de fábrica com a identificação
VW Caminhões. É esse o caso do carro de Rodrigo Moreno, que você vê
nas fotos. É o segundo Dodge V8 do gerente comercial de 25 anos.
Com câmbio manual de três marchas na coluna, o carro aproveita a
força do motor e economiza trocas de marcha. Ao rodar, ouve-se
apenas o som agradável do trabalho dos oito cilindros quando
instados pela pressão no acelerador. A alimentação do motor de 5,2
litros é feita por dupla carburação.
Apesar da curta existência, o Le
Baron deixou sua marca como carro de luxo, mas pagou o preço de ter
chegado na fase terminal da Chrysler. Alexandre Badolato, estudioso
da história dos Dodge brasileiros, afirma que um ano após o término
de sua fabricação era possível comprar um Le Baron pelo preço de um
Fusca zero-quilômetro. Ainda assim, nada menos que 11 Le Baron
teriam sido faturados em 1984 (!). Foram produzidos por volta de
1000 carros.
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